by Flávio Souza Cruz

terça-feira 03 2009



Passei alguns dias em uma espécie de câmara particular de descompressão nestes últimos tempos aqui em Belo Horizonte. Somente no último domingo eu consegui ter uma noite decente de sono. A quantidade de atividades e informações nesta viagem foi tão intensa que eu cheguei ainda meio sem rumo e exausto. Logo no primeiro dia, tive que retornar ao trabalho, dando aulas pela primeira vez em uma determinada disciplina. O cansaço acumulado somado aos problemas e atividades velhas de sempre me fez perder um pouco do fôlego em meus posts por aqui. No entanto, eu não poderia deixar de fazer uma coisa fundamental relacionada os meus agradecimentos.

Nesta viagem, eu pude sentir pela primeira vez na vida a importância de determinadas passagens nos evangelhos relacionadas à acolhida. Jesus era um andarilho. Ele não tinha um lugar fixo para pousar. Andava constantemente pelas terras da Palestina. E não é atoa que muitas de suas pregações estão ligadas ao acolhimento daqueles que necessitam abrigo. Sempre tive em conta tais palavras, mas nunca as havia vivenciado plenamente. Nesta viagem eu as pude compreender de fato. Sendo assim, eu não poderia deixar de mencionar todos os que me acolheram. Mas não se trata apenas de uma questão de abrigo físico, mas também uma questão de coração aberto e escuta ao outro. Tive muita receptividade em todos os países e cidades que visitei. Foram dezenas ou talvez centenas de vezes que me dirigi às pessoas nas ruas em busca de informação. E a enorme maioria me ajudou. Uma senhora na Amsterdã e outra em Madrid foram as únicas que desdenharam meus pedidos de ajuda. No mais, fui sempre muito bem recebido. Em especial, queria agradecer ao jovem tcheco que me acompanhou de Cesky Tesin até Ostrova. Ele não entendia nada de inglês e mesmo assim, se comunicando em tcheco tentou me ajudar em tudo. Fiquei tocado com o esforço que ele fazia para tentar me mostrar as coisas do destino e no mapa. Sendo assim - obrigado meu amigo distante!

Me lembro também do grupo de coreanos que me ajudaram na Itália, quando precisei recarregar a bateria da câmera e o meu conector não encaixava na tomada. Conversando com eles acabaram por me emprestar um conector universal que funcionava na Itália. Logo após, ao entrarmos para o trem, o coreano acabou me dando de presente o conector. Tudo isso era tão importante pois eu iria para Roma e não haveria como tirar mais fotos sem a bateria carregada. Eu tenho certeza que fui acompanhado por um anjo nesta viagem. A cada problema no caminho [e foram vários] eu acabava encontrando uma saída, uma ajuda, um socorro.

Muito mais do que as coisas que eu vi, foram as pessoas que eu encontrei. A grande viagem foi o percursso no encontro ao outro. Enquanto determinados portos se desvaneciam, eu encontrava novas acolhidas inesperadas. Ao chegar extenuado e ainda sem rumo em Berlim, foi calorosamente acolhido pela família Braun, a qual me ajudou de carro a encontrar um hostel barato na cidade. São certas coisas tão simples e tão importantes para quem necessita acolhida. E só vivenciando mesmo para saber.

Agradeço de coração ao amigo francês, o grande viajante, Herve Celard pela companhia e acolhida em sua casa em Rennes, me provendo um porto seguro em minha caminhada até o Monte São Michel. Também não poderia deixar de mencionar a Ula e seu namorado que me receberam, sem nem me conhecer, naquela noite fria em Cracóvia. De coração eu os agradeço. Nesta cidade fantástica na qual fui amorosamente acolhido, impossível não mencionar os meus amigos Marta e Jacek. Eles me proporcionaram os momentos mais incríveis em toda esta viagem. E confesso que tomei o ônibus de volta com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Muito obrigado, meus amigos!

Depois de quatro dias de viagem completamente alucinantes de viagem no qual percorri mais de 3 mil quilômetros em 15 trens diferentes e um ônibus, finalmente aportei em Valência e tive a enorme felicidade de ser recebido pela minha querida amiga Cláudia, juntamente com seu vizinho de quarto Isaak. Foram dias marcantes no qual tive a plena sensação de estar em um porto seguro e calmo. Muito obrigado, madrinha! Eu lhe sou profundamente grato.

Por fim, agradeço também ao Fabrício, à Julie e seu namorado Domingo por terem me recebido em Madrid e me levado a Toledo. Vocês não fazem idéia do quão importante foram nesta minha última etapa da viagem.

A todos vocês e a todos os anônimos que me ajudaram pelo caminho, o meu profundo abraço e aperto de mão. Eu não teria feito o que fiz sem vocês.

No mais, o meu respeito e apreço especial ao McDonalds. Por mais paradoxal que seja, o McDonalds me ajudou muito nessa trajetória. Foi sempre lá que encontrei uma internet gratuita na qual enviava as fotos e escrevia os meus posts. Sendo assim, só posso dizer que também há algo de bom nessa globalização capitalista. Anyways....

4 comentários:

CD_Brasil disse...

Nesse último fim de semana, recebi a visita de um outro grande amigo. Eu, surpresa, já que ele se deslocou 4.000km para passar o meu aniversário comigo, ouvi dele uma frase que ja tinha como lema embora nao conhecesse o verbo.

"A la madre, se quiere.
A la mujer, se ama.
A los amigos, se cuida."

Só cuidei de quem já cuida de mim.

Um beijo enorme e nao há o que agradecer.

Claudia

Flávio Souza disse...

Mas são exatamente nestes momentos pelos quais passamos dificuldades, é que conhecemos os verdadeiros amigos, Cláudia!

Brigadão por tudo!

Anônimo disse...

..." a new friend is like new wine; when it has aged you will drink it will pleasure" Apocrypha, Ecclesiasticus
...this words i found very wise and i hope our friendship bound some time ago will last and last...
cu, Flavio
congratulations for you that you managed to have such experience in life as your incredible journey :-)
marta

Flávio Souza disse...

thanks again for your kindly words, Marta! And yes! Our friendship will become more and more like a precious wine.

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