Fotografia: Melvin Quaresma |
Com todo respeito... "abre aspas... fecha aspas..." [:)]
O básico, o simples, é que as pessoas, os cidadãos, "encheram o saco" das formas culturais e institucionais pelas quais este país vem "funcionando". Cada um tem lá a sua lista das "cinco causas". Cada um tem lá a sua "insatisfação dolorosa e renitente" carregada por anos. Os 20 centavos ficariam lá por São Paulo e terminariam por lá, não fosse a letargia burocrática do Haddad e a ação desastrosa e estúpida da polícia militar do estado. A truculência da polícia, a lentidão tecnocrática e a inépcia dos governantes em compreender rapidamente a situação deu espaço às ruas e ao rasgar das indignações. O momento de se repensar o país afluiu como que em uma pulsão sanguínea a se espalhar pelas praças.
A sensação de se ver alijado e à margem das estruturas de benesses e regalias que funcionam muito bem para determinados e restritos grupos bem como a sensação generalizada de que as "vigas institucionais" que organizam o país, os estados e as cidades estão/são podres levou à mobilização individual de cada um que se movimenta neste renascido palco político das nossas ruas. Tentar encontrar "infiltrados", "sabotadores", "revertedores de pauta" e outros bláh bláh bláhs é de uma ingenuidade a toda prova. O povo, quer seja "politizado" de esquerda ou direita, quer seja operário, freira, aplicador do mercado, estudante, sem teto, com ou sem carteira assinada está em CATARSE.
O Brasil está em processo de purgação e purificação das suas dores e vergonhas, dos seus sufocos e frustrações. É bem claro que diversos grupos, neste momento, tentem tomar para si as rédeas de uma condução razoavelmente articulada para o estabelecimento de pautas de mobilização e negociação. O atual momento é justamente de uma corrida encarniçada dos grupos organizados para ver quem é aquele que consegue por as cartas de negociação na mesa e direciona para si "os ventos do movimento". Daí o desespero de vários destes, quando percebem que suas pautas "estão perdendo força" ou não fazem mais sentido nos clamores das ruas.
A "revolta do vinagre" é, para mim, o despertar de um longo sono com o qual havíamos nos acostumado. O sono nelsonrodrigueano do "a vida como ela é". De certa forma, foi um longo adormecer em forma de barata pelo qual passamos. Os cantos das sereias "do mercado" e do consumismo padrão-Fifa, bem como das "sereias libertárias com boinas escarlates" iam embalando corações e mentes enquanto o sistema institucional organizado, quer colonizado por aves bicudas ou por barbas mal-feitas ia se mostrando como a "repetição do mesmo" em variações de um mono tom voltado basicamente para a perpetuação de projetos de poder. PERPLEXIDADE é a melhor palavra que encontrei até hoje para falar sobre o que vivemos.
Estamos todos perplexos com O NOVO, o não-feito, o inaudito que agora urra e não pode cessar. Alguém, personagem pessoal para cada um de nós, que foi visto com suas costas emborrachadas de pancada ou com os olhos inchados de sangue pelas esquinas de São Paulo resolveu nos acordar. E dou glórias por isso! Pela CATARSE NOSSA em redescobrir a democracia!
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