by Flávio Souza Cruz

H I P E R F O C U S

F O T O J O R N A L I S M O

SOCIEDADE E POLÍTICA

quarta-feira 21 2009



Hoje (dia 19)terminou o meu pacote do Eurail Pass e devo fazer aqui uma singela homenagem a estes bichinhos maravilhosos chamados “trens” e aos caminhos de ferro, como dizem os nosso patrícios portugueses. Viajei através de vários e vários trens, dos mais variados tipos e estilos. Cheguei à conclusão que, de certa forma, a economia européia pode ser medida através da qualidade dos trens dos seus países membros. Portugal, por exemplo, possui alguns trens modernos, principalmente os que ligam cidades locais. Porém, no geral, sua composição ferroviária é ainda atrasada. França, Espanha e Alemanha possuem os melhores trens, sem dúvida. Dá realmente gosto de andar em um trem francês. Hoje mesmo eu saí da Itália em um trem vagabundo e na mesma hora já fui recepcionado por um trem francês ultra-moderno e aconchegante. É uma diferença brutal. O último que tomei foi o que liga a cidade de Narbonne a Cerbere, na fronteira entre França e Espanha. Deu saudade de tudo isso quando desci do trem. Foi realmente uma aventura fantástica andar nestes bichinhos. Certamente nem tudo andou às mil maravilhas do primeiro mundo. Peguei alguns trens completamente tranqueiras — coisa dos anos 60. Eles me lembravam a infância em BH, quando meu pai me levava à estação ferroviária (e eu já achava aquelas coisas meio antigas). Foi numa destas velhas carroças, no entanto, que eu tive a minha viagem mais divertida. Foi no trem que liga Lisboa até a cidade de Medina na Espanha. Não sei o que deu, mas ocorreu uma fantástica combinação de viajantes na cabine onde estava. Três portugueses, dois brasileiros e uma espanhola. Foi diversão, causos e risos do início ao fim. Nunca me esquecerei desta ótima viagem. Mesmo com trens velhos, dá para ser feliz! Enfim, vamos a eles:



Estação Ferroviária – cidade do Porto.



As moderníssimas acomodações do famoso trem Lisboa-Medina!



Gare de Lyon em Paris.



Só passei por aqui. Mas dá para sentir que é show – Áustria.



Mais do mesmo.



E de vez em quando, pode ser que nos apareça um boliviano tocador de flauta!



Foi uma festa! Pena que acabou!
Mas ano que vem tem mais!


Eu andei viajando pela costa do Mediterrâneo na Itália e no sul do França. Confesso que me deu uma enorme vontade de parar em uma praia por ali. O tempo é que não ajuda. As águas agora devem estar geladas. Mas certamente ainda volto ali em um período mais quente. Parei um tempo na bela de Nice, a qual me deu ainda mais vontade de por ali ficar. Aproveitei o tempo para registrar um pouco da vida cotidiana da cidade. Vamos ver o que temos:











Em bom termo – franceses – com cara de... franceses!


Em algumas ocasiões, quando menos esperamos, a vida supera a imaginação. E em algumas destas vezes, nos sentimos como personagens de um filme ou romance de intrigas e suspense. No meu relato anterior, falei sobre minha disposição em fotografar as catacumbas de São Calixto. Como também foi visto, a missão foi bem cumprida. O que ainda não foi visto é o preço pelo qual paguei pelas fotos.

A descida às catacumbas se iniciou por volta do meio-dia. Como mencionado, estava lá eu atrás de ótimas fotos descendo por aqueles corredores, entradas, salões e sepulcros...



Alguns salões eram bem iluminados. Outros, nem tanto. Neste meu desgarrar do grupo principal, me defrontei com um outro grupo sendo guiado em italiano. Resolvi investigar por onde eles iam e me deparei com uma grande escada que levava até o ar livre. Subi até lá, marquei o local e desci novamente. Continuei a buscar novos locais para fotos, enquanto escutava a voz da minha guia há uns trinta metros a frente. As coisas corriam bem e nem haviam se passado cinco minutos do período em que havia me desgarrado. Resolvi me juntar novamente ao grupo e os encontrei logo a frente em um salão onde eram realizadas missas. Como a guia ainda estava a explicar as relações do sagrado no local, resolvi dar mais uma desgarrada. Voltei alguns corredores em busca de um sala especial onde haviam imagens incríveis que eu ainda não havia fotografado.


Quando tentei chegar até a tal sala que fica no andar superior onde me encontrava, eis que me deparo com um paradoxo. Eu sabia que a sala ficava na direção que estava seguindo, mas ela simplesmente não estava mais lá. Tentei encontrar um outro caminho, mas ele simplesmente me levava ao mesmo ponto de sempre. Senti que estava em uma espécia de labirinto completamente sem sentido, dado que eu sabia perfeitamente que as direções que estava tomando daria em outras partes. Resolvi encontrar a tal escada que dava ao ar livre, mas eu simplesmente não achava mais. Retornei ao ponto onde estava e resolvi seguir a trilha pela qual já tinha passado para ir até o tal salão da missa. Ao chegar lá, uma grade logo à minha frente. Pensei comigo — eles perceberam que eu tirei as fotos e estão me punindo de alguma forma. Tentei retornar à entrada pelo caminho inicial. Subi as primeiras escadas. Outro portão logo à minha frente. E foi exatamente neste ponto. No exato momento em que estava no alto destas escadas que escutei um som fatal:




TUUFH TUUFH TUUFH - uma por uma - eu vi as luzes das catacumbas se apagando. E de uma hora para outra, me vi dentro de uma catacumba cristã do século II d.C. em plena escuridão e literalmente trancado.

A sensação era terrível. Me senti como estivesse fazendo parte de um teatro do absurdo. Aquelas coisas que só acontecem em filmes, estava justamente ali acontecendo comigo em plena Roma. Em meio à escuridão, tratei logo de abençoar a sábia escolha que havia feito de comprar uma lanterna e sempre andar com ela no bolso. Me pus a iluminar as escadas e corredores até que encontrasse alguma saída. O percursso foi longo. Repetidamente me reencontrei as tais grades que antes não existiam. Dei várias voltas até que resolvi pular uma destas grades. Foi então que reencontrei a passagem para uma das escadas. Subi rapidamente e havia um portão de ferro logo acima da escada. Havia ali um botão vermelho com a inscrição - alarme! Tratei de soá-lo. Não havia som algum. Tratei de esmurrar o tal portão. Gritei. Bati várias e várias vezes em busca de socorro. O resultado - nada. Nenhuma resposta. Nada e tão somente um enorme e profundo... silêncio.

Eu que até então pensava que tudo aquilo se tratava de uma brincadeira de péssimo gosto, me deparei com a idéia de que havia de fato sido abandonado ali dentro. Tentei encontrar uma outra possibilidade. Desci as escadas e procurei por outra saída. Passados alguns minutos, encontrei a outra escada. Ela me levou a outro portão de ferro, aparentemente lacrado. Olhei para a fechadura e a mesma não estava trancada por chaves. Tentei abrir — sem sucesso. Haviam duas trancas enormes, uma acima e outra abaixo da porta impedindo a abertura. Com as mãos, me pus a movimentá-las. Nenhum milímetro se mexeu. Comecei a ficar realmente preocupado.



Ao olhar para o lado, me deparei com uma outra porta menor. Resolvi abri-la e me deparei com uma espécie de escritório-sacristia. Havia ali diversos livros, estantes e uma grande mesa. Nesta sala, encontrei duas outras portas, também de ferro, mas com grades e vidros na parte superior. Ambas estavam fechadas. Não haviam janelas e não havia ligação de ar alguma com o exterior. Eu estava literalmente lacrado debaixo da terra junto com o legado de mártires e mortos cristãos de centenas e centenas de anos atrás. E respirando toda aquela saudável atmosfera. Meu corpo estava todo molhado de suor. A sensação era terrível. Eu tinha que encontrar alguma forma de escapar daquele lugar!

Um quê de afobação e nervosismo me fez vasculhar tudo ali naquela sala. Eu precisava encontrar algo que me ajudasse a sair dali. Encontrei algumas chaves de armários, mas elas nem de longe me ajudariam. Procurei pelas gavetas e portas. Olhei para a mesa e encontrei uma ferramenta de podar flores. Com ela em mãos, tentei arrombar as trancas da porta principal. Fui lá e comecei a martelar a tranca de baixo. com muito custo, consegui removê-la. Tentei rodar a maçaneta e nada se movia. A tranca de cima emperrava tudo. Fui então que tentei removê-la. Comecei a bater e a bater — mas nada se mexia. Cansado e estenuado, retornei à outra sala. Procurei por outras ferramentas. Vasculhei por outras gavetas até encontrar uma chave inglesa e um grande alicate. Resolvi me usar do mesmo para remover a tranca. Voltei à porta principal e comecei literalmente a espancar a tranca, sem menor pudor. Usei de toda a força que eu tinha até que a mesma começou a se mover. Um milimetro apenas. Mas era já algo fantástico. Fiquei uns quinze minutos martelando-a. Bati tanto que machuquei a unha e o polegar. Agora estava com a mão sangrando. Mas eu não podia desistir. Bati mais e mais até que a tranca se soltou. Pronto - estava feito! Havia removido as duas trancas. Agora era só sair...



Rodo a maçaneta. A lingueta da fechadura se retrai. Forço a porta para a frente. Tudo continuava trancado da mesma forma que antes. Havia uma forte tranca do lado de fora da porta, impedindo a passagem. Foi então que as minhas energias espirituais se foram. Pensei comigo mesmo — "Meu Deus! Eu estou a milhares de quilômetros de casa, preso dentro de uma catacumba e não há nada que eu possa fazer a não ser esperar!" Desalentado, resolvi me sentar em uma daquelas cadeiras em volta da mesa. Fiquei lá meditando sobre como tão Kafkiana era essa situação. Preso nos labirintos antigos da cristandade. Sozinho em um ambiente fechado e empestiado.

A situação era crítica. Eu pensava em meus passes de trem que iriam expirar daqui há dois dias. Pensava se haveria alguém ali no dia seguinte para abrir aquela porta. Pensava em mil coisas ao mesmo tempo. E ficava lá rodeando a mesa e dando voltas incessantes tentando imaginar algo para me tirar daquela armadilha. Os minutos foram se passando e nenhuma nova idéia brilhante dava um sinal de vida. Resolvi então reverter a situação emocional. Me concentrei e procurei acalmar o espírito. Eu não poderia desistir. Devia ficar sereno e tranquilo. Assim eu encontraria a solução.

Coloquei a bateria da máquina fotográfica para recarregar. Comecei a examinar os livros e os objetos ali. Examinei roupas, papéis, relatórios, páginas de livros. Minha água estava se acabando. Tratei de recarregá-la ali mesmo com a que vinha através da torneira. Mais alguns minutos. Me sentei. Agora estava em paz. A mente se acalmara.

Levantei e peguei novamente as ferramentas. Comecei a desparafusar as portas. Com grande esforço, uma das travas laterais da porta do escritório caiu ao chão. Era um começo. No entanto, eu não conseguia alcançar a trava lateral superior. Estava lacrada externamente. Mais um desafio. Retornei à mesa. Haviam livros de arte cristã antiga empilhados ali. Comecei a folheá-los. Recuperei a bateria da cÂmera e tive a idéia de registrar aquele lugar. Tirei fotos lá em cima e retornei lá embaixo da catacumba para tirar mais algumas. O clima não estava lá dos mais agradáveis e logo retornei à sala.



Já havia se passado uma hora e meia desde que as luzes foram apagadas. Os ponteiros do relógio andavam e eu ali sentado a pensar novamente sobre aquela situação inconcebível, me lembrando de filmes de suspense e estórias de Indiana Jones. Me sentia em um teatro do absurdo ali preso naquela situação impensável. Resolvi espancar as portas novamente e a gritar por socorro. Bati várias e várias vezes gritando por socorro. Nada. O vazio era a única resposta que eu obtinha.

Mais uma vez me concentrei buscando um centro de objetividade. Retornei à vasculhar as gavetas. Desta vez fui mais minucioso. Resolvi olhar parte por parte, gaveta por gaveta, objeto por objeto. Deveria ter algo ali que pudesse me ajudar. Os minutos iam passando. Eu encontrava objetos de uso pessoal, objetos religiosos, roupas, papéis, livros, agendas e exatamente mais nada que pudesse me ser útil. Finalmente encontrei uma gaveta a qual ainda não tinha examinado. Fui até a mesma ávido por uma solução. Haviam papéis, um pequeno pano e logo abaixo do pano um coisa linda e cintilante chamada - chave! Estava ali. Era ela a minha resposta. Com ela em mãos, corri para a porta principal da sacristia. Rodei a chave. Eu haveria de sair... Com todo o meu ser ávido pela libertação, esperei pela rodada dupla da chave. Virei para o lado e a forcei. O resultado era nulo. Tentei rodar mais duas vezes e nada.

Angustiado, senti que a minha esperança estava se desvanecendo. No entanto, senti também que aquela chave conseguira entrar perfeitamente no buraco da fechadura. Ela devia ter pois um formato semelhante ao da porta dos fundos. Foi então que corri para lá. Era pois, a chance final. Ela tinha que funcionar. Coloquei-a na fechadura. Rodei para o lado. Um clique se fez. Mais uma rodada...

E o ar mais límpido e aconchegante do mundo bateu em minhas narinas como um brisa intensa de juventude - o ar translúcido da liberdade!



Se alguém pensa que eu fui até Roma para ver os fantásticos monumentos que estão ali (alguns vistos no post anterior logo abaixo), parcialmente se enganou. É bem óbvio que me defrontar com o Coliseu ou Caracala frente a frente é algo impressionante. Para mim, certamente uma maravilha. Mas muito além disso, eu fui até Roma para visitar um cemitério. Não se trata por certo de um cemitério comum, mas das Catacumbas de São Calixto — o cemitério cristão onde estão guardadas as mais antigas representações gráficas do cristianismo primitivo. Para a maioria das pessoas, tal coisa é completamente irrelevante. Não para mim. E eu não poderia deixar de ter feito esta viagem sem visitar São Calixto, localizado na Via Apia, há algumas centenas de metros onde supostamente Pedro exclamou o famoso "Quo Vadis"





O lugar é uma maravilha, como vocês podem perceber. Deste portão inicial até as portas das Catacumbas, são 900 m andando neste descampado com jardins. Havia, no entanto, um problema — não são permitidas fotos lá dentro. E eu, como pesquisador, estava ávido por elas. Fiquei então a pensar em formas de as conseguir. A guia, que me parecia uma freira, muito simpática, começou a falar sobre os vários níveis e as coisas que encontraríamos lá embaixo. Ela possuía um ar bastante inspirado e suas palavras tinham um quê de forte ritualismo e simbolismo cristão. No entanto, enquanto andávamos e pude reconher as coisas pelas quais procurava, não pude me conter — me separei do grupo e discretamente comecei a tirar as fotos. Eis o que consegui:



Um dos vários corredores das catacumbas de São Calixto.



Receptáculo para as urnas funerárias.



Um dos salões funerários.



Representação gráfica junto ao topo de um salão. Não posso afirmar corretamente, mas me parece ser Jesus ao centro.



Uma coleção de lamparinas e vasilhas com óleos.



Detalhe de uma urna funerária.



Mais utensílhos cristãos. Interessante observar os objetos em forma de concha. O cristianismo primitivo era estreitamente ligado aos objetos simbólicos relacionados ao mar e à pesca.



Fantástica escultura de Jesus como bom pastor.






Roma é uma cidade difícil de captar. Certamente eu teria que ficar lá por pelo uns dez dias para ter uma idéia melhor da cidade. Roma é OVER. Muita história, muita informação, muito tudo. É mais difícil falar e mostrar essa cidade do que Paris. Tentei captar algo além das tradicionais fotos turísticas do lugar, mas não tive muito sucesso. Roma merece ser vivida plenamente para se entendê-la. Suas ruas, monumentos e sua gente — o fluxo incessante de turistas e carros selvagens... Roma é Over! Belíssima e imponente!


















Um dos poucos pecados que cometi nesta viagem foi o de não ter comprado um mp3 player para me acompanhar. Por outro lado, tenho tido contato com muita música nos vários lugares que fui. E nesta trajetória toda que tenho percorrido, sem sombra de dúvida eu posso dizer que a minha trilha sonora é centrada em um conjunto apenas - U2!



Me lembro até agora do trem chegando à cidade de Veneza. Eu ainda fazia idéia direito se aquela era mesmo a cidade até o momento em que vi as águas ao longe com as casas iluminadas. É redundante falar deste lugar, bem como mostrar a cidade de Veneza. Consegui percorrer a pé pelo menos a metade da cidade. Fico imaginando a vida chata das pessoas que moram ali. Certamente deve ser um porre a convivência diária com os turistas. Por outro lado, é um charme total. Haviam me dito que as águas por lá fediam e que a cidade, como um todo, também não cheirava muito bem. Não vi nada disso (ou melhor – não cheirei nada disso – LOL) O que vi foi muita movimentação, turistas, máscaras e restaurantes – muitos!











Em tcheco se pronuncia Teshin. Esta bela cidade fica na fronteira entre a Polônia e República Tcheca. A cidade é dividida ao meio - um lado tcheco e o outro polonês. Neste último lado, a cidade passa a ser Czeski Cieszyn. Fiquei nesta cidade por umas 7 horas na minha viagem da Polônia até a Itália. Andei um pouco pelas ruas, jantei em um restaurante italiano bem aconchegante e depois fui para a estação rodoviária.

Tudo ótimo... tudo bem... No entanto, não pude deixar de notar que a estação ferroviária de Český Těšín era um tanto quanto sinistra...



Nada seria estranho, dado que nestas minhas andanças eu vi das mais variadas estações de trem. Lá fora, no entanto, fazia um frio terrível inferior aos 10 graus. As ruas estavam cheias de uma camada grossa e suja de gelo. O piso da estação molhado e elameado. Poucos e estranhos eram os meus companheiros na estação. E nisso entro nas questões delicadas que fazem com que este texto sejam um misto de reportagem social e crônica. Se eu já havia passado por algumas estações estranhas, essa foi a que mais gente estranha eu vi na minha vida. Viajantes em trajes camuflados, adolescentes punks, velhas senhoras encurvadas e... bêbados... vários bêbados. O número regular de pessoas era pequeno. Mas havia muita rotatividade. Toda hora a porta se abria, trazendo mais um convidado "esquisito". Fui dar uma olhada no restaurante da estação e logo um bêbado grande e gordo com um garrafão junto à janela me agarrou. E exclamava sabe-se lá o quê em tcheco apontando para a garrafa e e a mão - obviamente queria dinheiro. E eu, como ando com o orçamento bem contato, dizia - "no no no" com os ombros levantados. Com muito custo este me largou. Fui dar uma volta para ver se o tempo passava...



Andei um pouco pelas ruas, mas não havia mais nada para se fazer. Os cafés rapidamente se fecharam. Retornei. E, como ainda havia por esperar muito, lá fui eu para um canto me sentar. Passados alguns minutos, resolvi ter uma idéia de registrar as coisas por ali. Para quê? Logo um dos "moradores" do lugar me pediu para tirar uma foto.



Eu, que havia achado essa figura para lá de caricatava e meio assustadora, passei a conversar com o mesmo. E aparentemente ele gostou de mim, apesar do fato de que cada um falava em misto de gestual, inglês e tcheco. Foi aí que a bateria da câmera chegou ao fim e resolvi recarregá-la em uma tomada na parede. Deixei lá por alguns minutos. O "amigo" então resolveu me convidar para tomar um café. Pegou uma moedinha de dólar e ficava dizendo "capuccino, capuccino, capuccino...". Gentilmente, tentei explicar a ele que não poderia deixar a bateria carregando sozinha. Mas enfim...

Neste tempo todo, a entração de gente não terminava. Cada hora aparecia um mais diferente do que o outro. No entanto, o que movimentava mesmo a estação eram os moradores da mesma. Uma turma de mendigos bêbados que ficavam todos juntos em um canto - completamente bêbados. Em cada momento, um se levantava cambaleante ou dando saltinhos e percorria os corredores por ali. E pior - sempre voltavam e viam falar comigo. No início, tentava responder algo em inglês... Mas, o efeito era quase nulo.



Aquela situação passou a se transformar em um misto curioso entre apreensão, divertimento, tensão e irritação. A cada momento um se levantava para falar comigo.



Em dado momento eu resolvi conversar com eles em português. Os caras me falavam em tcheco e eu respondia em português. Eles falavam algo e eu "aahh sim! Claro! Perfeitamente! A situação tá braba, né! Tá frio..." E os minutos andando em ritmo de câmera lenta... Em dado momento, depois de algumas novas fotos que tirei, um recém-chegado com cabelos loiros, um gorro e desdentado se aproximou de mim e começou a rir. E ficou lá parado, falando algo entre suas risadas. E eu... "É tio! É isso aí mesmo..."



E tudo foi se transformando em algo fantasmagórico e surrealista na qual, por horas, os minutos se congelavam...

Postagens mais visitadas

Pesquisar este blog