by Flávio Souza Cruz

sábado 26 2003





Essa montagem logo acima foi feita em torno do quadro "O Prestidigitador"de Hieronymus Bosh. Uma boa reprodução dele pode ser encontrada aqui. O original do quadro se perdeu, mas essa cópia pode ser vista em Saint-Germain-en Laye. Mas por que nos interessa este quadro? Para falar um pouco sobre Hocus Pocus. E qual seria então a relação? Primeiramente vamos lá aos alfarrábios buscar a origem da palavra. Hocus Pocus, no século XVII era a expressão em "falso latim" pronunciada pelos prestidigitadores e ilusionistas na hora de seus encantamentos. Descobri que um tal Thomas Ady escreveu no seu livro "A Candle in the Dark, or, a Treatise Concerning the Nature of Witches and Witchcraft" em 1655 o seguinte:


"Eu irei falar de um homem... que vivia na época do Rei James... o qual chamava a si mesmo de O melhor Hocus Pocus de sua majestade e ele assim era chamado porque a cada truque ele costumava dizer Hocus pocus, tontus talontus, vade celeriter jubeo, uma composição negra de palavras para cegar os olhos daqueles que o contemplavam, para fazer seu truque passar o mais correntemente sem descoberta". 

O significado oculto dessas palavras inexiste. Elas servem apenas como uma distração para a platéia. A partir do momento que este ilusionista ficou famoso na época do Rei James I (1567-1625) na Inglaterra, outros magos passaram a reproduzir a expressão. Uma outra versão, de cunho anti-católico foi colocada pelo arcebispo de Canterbury entre os anos de 1691 e 1694. Nas suas palavras, hocus pocus seria uma corruptela popular feita pelas palas massas latinas das palavras da consagração da hóstia "hoc est (enim) corpus (meum), "este é o meu corpo". Certamente o arcebispo John Tillotson estava tentando atacar a igreja católica romana, ainda mais num período tão religiosamente conturbado como aquele. A versão mais provavel, no entanto, permanece sendo a do mago Hocus Pocus vista atrás. Atualmente ela costuma ser usada em brincadeiras, truques e travessuras.

Pois bem, voltemos ao quadro. Bosh costumava pintar cenas da vida cotidiana e provavelmente este quadro é resultado de diversas cenas parecidas, vivenciadas por ele. O que vemos nessa tela? Um grupo de pessoas, todas elas muito interessadas na apresentação de um mágico, de um prestidigitador. Reparem no velho. Ele está estupefato com o truque feito. Ele ficou tão assoberbado que chega cuspir uma rã. Os outros, com uma cara de abobado tom de "graça", ficam lá presenciando a cena. No entanto, com um ar também de "bobo", o ajudante do mago sorrateiramente pega o saco de moedas do velho. O jovem, ao lado da mulher, parece ser o único a presenciar o roubo do assistente e aponta para o lado. A criança logo abaixo vai se divertindo, apesar de dar uma puxada nas roupas do velhote, um sinal de saber ou querer alguma coisa. Mas e então? O que isso tem a ver com este blog?

Certamente a correlação simples nos leva a crer que Hocus Pocus e o Prestidigitador andam de mãos bem dadas. Mas minha idéia aqui é subverter a estória. Por acaso já pararam para perceber que nossa realidade cotidiana é repleta de prestidigitadores e conjurações mágicas? A televisão vive nos distraindo, as imagens e propagandas, outdoors e webbanners vivem nos distraindo, para não falar na retórica política a la "companheiros pés descalços e descamisados". Sem maniqueísmos, devo dizer, a toca do coelho não é tão feia como Matrix. E distração, have fun, é muito bem-vinda, obrigado... desde que... "não sejamos roubados e engalobados sem a nossa permissão" (por que certamente nesse mundo há gente que dá autorização escrita e carimbada para ser roubada). Olhos esbugalhados e cuspindo sapos, "dura vita sed vita", para mim, que se exploda! É isso! Aqui, neste blog falaremos de magia e encantamento, mas também das máscaras do mundo e do outro lado do espelho. Encantar e desmascarar. Hasta Pronto! Hocus Pocus! And have fun!

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