by Flávio Souza Cruz

segunda-feira 28 2003



Me pintem de mil cores e me corrompam à luz do céu. Me vendam imóvel ao som da tragédia. Matem meu rebanho, escarneçam meu nome, rotulem meus filhos e do sal me façam em pedra. Num vagar me entreguem às traças... que me corroam de sangue a tomar a dor do vazio. Estilhaçar como prato sujo em uma parede de fel ei de me ver. Que me joguem, julguem e queimem! Destruirei o céu na busca da tua boca. Não cessarei. Rebelarei o ventre das crianças e das aves da terra. Revoarei de dento da boca das flores humanas. Não cessarei. Criarei lobos brancos com fome de ti. Serei carne, serei fogo e lâmina na espera da hora. Olharei pros quatros ventos e sufocarei gargantas. Não cessarei. Cobrirei os parvos com a minha mão. Serei branco, árduo, inominável em mim mesmo para olhar o abismo do teu não dizer. Não cessarei. Não voltearei. Não vingarei. Serei uno, inunda palavra, a rasgar teu sorriso. Verdade. Inefável verdade que me deram por nome.





Foto-Imagem por Salonick
Publicado originalmente no Hiperfocus em 1/23/2003 11:44:12 PM

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